Toco-me... logo, existo!

O que que te toca?… O que te toca pode definir-te. Como te toca, onde te toca, com que intenção. Na realidade, existem duas formas de algo nos tocar. Exteriormente, o toque directo, feito através do contacto, do corpo, da fisicalidade, dos sentidos, como quando algo que nos envolve ou nos acaricia. Interiormente, o toque subliminar, feito através da percepção, da mente, do espírito, das emoções, como quando algo que nos comove ou nos faz reflectir.

Mas há um terceiro tipo de toque, um toque que integra ambos os estímulos: o toque próprio.

Quando nos tocamos, estamo-nos a auto-conectar com tudo aquilo que somos, externa e internamente. Estamos a conhecer não só o mapa do nosso corpo, mas também a sua funcionalidade, as suas reacções, o que sabemos e não sabemos sobre ele, o que cada uma das nossas partes físicas representa para a nossa psique e de que forma é que as nossas energias fluem ou confluem nas linhas e nos entroncamentos que nos definem. Conhecer o nosso corpo é um processo íntimo e seguro de sabermos o que temos em nós e do que queremos procurar nos outros.

A masturbação, palavra técnica para o processo de descoberta do eu íntimo, é um processo essencial para uma criação de identidade sexual. Sabermos o que nos agrada, como nos agrada, quais os nossos limites e de que forma o nosso corpo está preparado para se deixar ir na descoberta do prazer é um ponto fundamental para se ser uma pessoa com uma consciência bem definida de si mesma e dos seus desejos.

Ao contrário do corpo masculino, que tem uma sexualidade exposta, o corpo feminino tem os seus mistérios bem guardados. Daí o toque pessoal poder ser efectuado das mais variadas formas. Mas um elemento fundamental para quem se procura tocar intimamente, seja pela primeira vez ou por curiosidade, é o espelho. Pequeno ou grande, o espelho é a melhor forma de se perceber a própria anatomia, e entendê-la. E é fundamental porque as nuances são tão pessoais que não existem livros suficientes para as incluir todas.

Sensorialmente, o toque com as mãos e com os dedos é a forma mais presente de se estar consigo mesma, mas as possibilidades de atingir o prazer são inúmeras, inclusive sem qualquer toque. Assegurando a sua integridade, a imaginação é o limite. Desde objectos, brinquedos ou simples exercícios, é possível atingir o prazer máximo das mais variadas formas.

Com este autoconhecimento, floresce a autoconfiança e a certeza do que se procura. A vontade e o desejo integram-se na consciência e o corpo responde e adapta-se mais adequadamente aos estímulos ou à falta deles. Sim, porque nem sempre o corpo responde aos desejos da mente e vice-versa. Há que saber sentir e saber o que se sente.

Por fim, uma dicotomia: a masturbação não tem de ser um prazer a solo. Partilhar com alguém o conhecimento que temos de nós próprios pode ser muito útil para quem deseja conhecer-nos em toda a nossa essência. Tocar o próprio corpo em frente a alguém, ou mostrar a alguém como gostamos que nos toquem, é um processo crucial na construção de uma cumplicidade íntima plena e saudável.

Mas nem sempre é fácil iniciar este processo, seja por inibição ou por crença, ou por medo ou por vergonha. Mas se há algo por onde vale a pena começar, é por nós. Nesse sentido, deixo alguns desafios para quem deseja começar ou desenvolver este autoconhecimento:

– Coloque uma venda nos olhos e perca-se na descoberta do seu corpo

– Imersa-se numa banheira e descubra as potencialidades da pressão da água do chuveiro (depois experimente sem estar imersa)

– Procure informação sobre exercícios de Kegel e Pompoarismo e pratique (para além do prazer que podem proporcionar, são muito úteis para fortalecer a musculatura interna, o que terá reflexo não só no prazer a solo mas também no prazer a dois, a curto e a longo prazo)

– Compreenda o poder da respiração, exercícios de yoga e meditação podem ser muito úteis

– A masturbação não é apenas uma estimulação genital, dê atenção a todo o corpo, potencie a sua energia e perceba como ela flui e converge.

– Não procure o orgasmo, procure o êxtase, porque orgasmos há muitos e dos mais variados. Explore.

Acima de tudo, seja no autoconhecimento ou no conhecimento do outro, mantenha-se curiosa porque, no universo da sexualidade, as regras e as certezas são sempre muito relativas, por isso a curiosidade é sempre o melhor começo.

 

In “mulhermusa.com” (2015)